Sunday, January 9, 2011

Undercity

Quando era criança, pouco depois do Metro de Lisboa ter aberto as novas estações das Laranjeiras, Alto dos Moinhos e Colégio Militar, por volta de 1988, a minha mãe levou-me num passeio por todas as estações da rede. Na escola, a "composição" seguinte foi a relatar toda essa aventura, descrever as estações novas, e como havia uma relação entre a decoração e o nome delas.

Ainda hoje me lembro de trocarmos de linha na estação da Rotunda e estarmos com atenção ao destino do comboio, escrito por cima da janela do maquinista. No entanto, o que mais ficou dessa viagem foi a estação de Alvalade*, foi ver o comboio seguir vazio para o terminal, ouvir o chiar ao mudar para os carris do lado e ver lá ao fundo, no meio da escuridão, as luzes amarelas e vermelhas dos comboios parados. Queria ter entrado pelo túnel e explorar toda aquela área inacessível. E durante os anos seguintes muitas foram as vezes que imaginei a quantidade de aventuras que poderia ter nos túneis do Metro de Lisboa.

Esse fascínio perdura, e com o tempo juntou-se a outros que igualmente envolvem explorar áreas inacessíveis: túneis e estações desactivadas, edificios abandonados, caminhos no meio de nenhures.. No entanto, e infelizmente, raras foram as vezes que essas vontades de explorar se concretizaram.

E confesso-me de pensamentos criminosos já em idade de ter juízo, principalmente durante os anos de faculdade. Era hábito, ao olhar para o que resta dos velhos túneis que formavam o nó da Rotunda, enquanto ouvia lá ao fundo, e longe do olhar, os comboios a entrar e sair da segunda estação, aparecer a vontade de passar a cancela e descer as escadas, só por um bocadinho.

Enfim, às vezes lembro-me que a Internet é óptima para encontrar sites de outras pessoas com o mesmo gosto, que se aventuram e fotografam todos os recantos dessas expedições. Outras vezes sou apanhado de surpresa por um vídeo como o que se segue, onde durante meia hora somos levados por três túneis e uma ponte, e conseguimos sentir o perigo de sermos apanhados ou de aparecer um comboio na pior das alturas. Tudo como se nós proprios lá estivéssemos.

UNDERCITY from Andrew Wonder on Vimeo.

Tenho ainda de mencionar que descobri o video graças ao @josemarques que o partilhou no Feeding the Robots. Obrigado, Zé! :)

*A memoria que, na altura, ficou da estação incluía a arquitectura 2 plataformas e 3 linhas, diferente das restantes e só por si rastilho para mil e uma histórias na minha cabeça, mas não o nome. Só anos mais tarde associei o nome à estação desse episódio de infância.

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